segunda-feira, 13 de novembro de 2017

CHOQUE DE JUSTIÇA E GESTÃO DO JUDICIÁRIO



Esdras Santos   8919318
A ONG Human Rights Watch divulgou no início desse ano um relatório sobre a situação dos direitos humano em presídios de 90 países, com dados coletados em 2016. Nesse documento o Brasil apresenta condições precárias, com população carcerária 67% acima do suportado pelo sistema. Como reflexo dessas condições a crise penitenciaria estourou no norte do país, no inicio de 2017,  provocando 133 mortes de detentos  em território nacional em apenas 15 dias.
O projeto Choque de Justiça1 surgiu como uma resposta a essa crise, ele tem como objetivo a reavaliação jurídica da situação de pessoas inseridas no sistema prisional e como enfoque a resolução dos processos de prisões provisórias. Segundo Ministério da Justiça 41% das pessoas presas estão em condição provisória, ou seja, ainda não foram julgadas.
No dia 12 de janeiro de 2017, os presidentes dos Tribunais de Justiça dos Estados se reuniram com a Ministra Carmen Lúcia - presidente do CNJ, órgão que esta coordenando as ações do projeto - e comprometeram-se a coletar dados sobre os presos e acelerar os julgamentos dos processos de prisões provisórias.  No entanto, além de muitos TJs apresentarem dados inconsistentes e desorganizados, como afirma o CNJ, também encaminharam planos com pouca clareza na definição das atividades e do cronograma; a maioria apresentou atos normativos (regra com poder de coerção) desconectados do objetivo da ação.
O resultado dos esforços apareceu após o primeiro quadrimestre de 2017, com queda no número de presos, gerando assim uma quebra na tendência ascendente, houve uma redução de 4 mil presos provisório. Dos processos de prisão reanalisados foram absolvidos cerca de 21 mil pessoas, o que corresponde a 24% do total reanalisado. Pode-se depreender pelo apresentado no relatório do CNJ e nos frutos dos trabalhos do poder judiciário,  que a proposta apresentada tratou-se também de um choque de gestão passageiro e incipiente, uma vez que, mesmo com o proposito parcialmente alcançado, ficou clara a dificuldade dos Tribunais de Justiça definirem metas tangíveis e ligadas ao objetivo.
O ponto de partida para solucionar esse problema já foi tomado; treze anos atrás não havia nem mesmo estatística nacional sobre processos judiciais, orçamento dos tribunais ou quantidade de magistrados do Poder Judiciário brasileiro, foi em 2004 que o STF divulgou o primeiro Relatório Justiça em Números2, elaborado pelo CNJ. Já no relatório de 2017, com ano base em 2016, é possível perceber uma tendência de aumento da despesa total com o Poder Judiciário desde 2009. Apesar do crescimento constante dessa despesa a série histórica de processos pendentes tem aumentado continuamente nesse período, como ilustra o gráfico abaixo.
SÉRIE HISTÓRICA DE PENDENTES
Fonte: Relatório Justiça em Números (2017)

Há um esforço perceptível do Judiciário, através do projeto Choque de Justiça e dos dados coletados no Relatório Justiça em Números, em compreender os gargalos do sistema que fazem parte e tentar soluciona-los, no entanto o aumento crescente das despesas em contraste com a persistência do crescimento de pendentes, assim como a dificuldade dos TJs em coordenar esforços para atingir ao objetivo do Choque de Justiça, demonstram que para além de zelar do cumprimento da norma legal o Poder Judiciário precisa também de gestão interna para proporcionar atendimento mais eficiente e eficaz à população.

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